terça-feira, 29 de maio de 2018

No Balouçar do Vento
Poesia de Antom Laia.
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Tomei em mãos o livro, que se lê sem desviar o olhar, do poeta e amigo Antom Laia, com o título NO BALOUÇAR DO VENTO, contendo desenhos de Xosé Tomás, que me foi oferecido pelo autor no III Encontro Xuntos Pelas Artes, Braga, Maio de 2018. Chego ao fim e, no último poema, fixo estes versos que traduzo: «Arda pois o poeta no lume bravo, mas o poema se converta em cinza...» reside aqui uma vontade: que o poema e o poeta sejam inseparáveis.
Assim assentamos visão que transforma o sonho em vontade, esse instante líquido que está na essência dos poetas, quando estes sentem estar a “arder” em poesia, depois de tomarem os búzios do silêncio, ficando em relevo o comparante: «Como se me chegasses o lume / às veias abertas do infinito.» outro título que o autor oferece e nos coloca ante esta afirmação: «O sonho de um poeta é respirar poesia»
É então que o poema toma lugar na grandeza da sua identidade graças ao seu carácter em revelar-se na ampla plataforma das letras, no seu estado mais puro e mais profundo, enquanto portador da mensagem.
Daí poder-se afirmar que Antom Laia tem do fenómeno poético uma visão abrangente da palavra e desse outro sentido que evoca em cânticos ao amor e à mulher e que nos vai cativando a atenção pelo deleite dum discurso, denso e pleno de conteúdo. Guardamos dele uma leitura séria, porquanto se perfila já ladeado entre aqueles que evidenciam uma mais que refinada poeticidade e que advém de uma finura quase inesgotável, a par dum lirismo que esvoaça pelas franjas de um erotismo descomplexado. É, portanto, uma poética plena de sensibilidade, entrecortada, aqui e ali, por imagens que se projectam na mensagem que é amor, e a mensagem mais iluminada e bela não necessita de muitos rodeios, mas de uma procura do sujeito poético, como a que preside e lidera todo o percurso deste volume.
Do mesmo modo, assinalamos a leveza com que o poeta nos canta a maravilha do poema livre ou em forma de soneto e que é sal e raiz, mulher e vento, mais o aroma que ele lhes empresta, como acontece com a terra, a água, o silêncio, o lugar, as manhãs e os instantes perfumados da vida. Há, assim, em toda a estrutura poética, deste autor um sentido apurado que nos encanta e convida à leitura e, dela, desfrutar da beleza semântica que o texto nos dá, preenchida por uma harmonia e uma musicalidade que lhe é caractrística, como nos diz Félix Azúa: «em poesia a música e a palavra embalam-nos para a vida.» Corroborando desta opinião, apraz-me dizer que Antom Laia recebe e partilha, neste Balouçar, os signos que lhe chegam embalados pelos vento da poesia.
Álvaro de Oliveira

1 comentário:

  1. Plenamente de acordo com esta leitura. Eu, que tive em mãos este livro, a desbravar o sentido das imagens eminentemente poéticas.

    Um beijo,

    Lídia

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