terça-feira, 22 de maio de 2018




As Lagoas e a Terrana poesia de Xosé de Cea


Tomo em mãos o livro de poesia do meu amigo e poeta galego Xosé de Cea, sob o título “VILAREDA”, editado pela Asociación Cultural Rosalía de Castro, dividido em três subtítulos: I. TOPOS; II. ANTHROPOS; III: EPOPTEIA” com um curto mas incisivo prefácio (Limiar) do escritor Xosé Vasquez Pintor.
A página branca que sempre apaixonou e foi convite para o homem é o palco sagrado e quase único onde os poetas depositam confissões, emoções, momentos íntimos, e o texto poético que dele emerge é o resultado visível dessa confissão sublime onde a voz se evade das arcadas do silêncio que era sonho e memória, ânsia e espera, e que, doravante, configura a realidade.
É aqui que o poeta se impõe, e se expõe no texto e o reveste de palavras, essa ferramenta inacabada, mas sempre renovada e reinventada. E leio: “… como a que houbo que arrastrar / no pulso botado contra a lagoa, /mai cos seus brazos de nena na terra, / rastros e rastros/ de terra arrastrada”...
E, mais ao fundo da página: “...e tamén pai cos seus brazos de neno / baixando a maza coma un raio / para fender pedra na canteira, tres pesetas a hora,/ oito horas ao dia, / mellor que coidar ovellas.”
A poética de Xosé de Cea a elevar-se como um grito contra a agressão à natureza, no caso vertente, localizada em Vilareda, /Palas de Rei, /disque Galiza. Noutro andamento, diz-nos que, “Cuspo na terra / para amasar unha lama / que me embarre os ollos/ e me devolva / a visión: / un universo onde sobreviven/ intactas/ todas as lagoas. Tamén a miña.
Mas sempre o poeta na luta por ideais nobres e a sua persistência… aí o temos a revelar ideias e emoções, imagens inteligíveis, uma poesia do sentido e, por isso, sentida. E o livro é essa janela de letras virada e exposta para o mundo que conduz o poema inteiro para patamares de iluminada grandeza.
Falamos de um poeta autêntico, e atento ao que o rodeia, e nada, portanto, se lhe escapa nesta evocação à terra, à água, às lagoas abolidas, aos pais e aos avós.
Podemos dizer que em Xosé de Cea pontifica o toque de um espírito sensível, um peregrino da natureza, que se mostra a partir duma escrita de excelência e que assenta nos pergaminhos líricos de um Ser plural que somos nós.

                                                                                      Álvaro de Oliveira

1 comentário:

  1. A Poesia tem sempre tanto que nos dar.

    Parabéns por mais esta reflexão, Álvaro. Não consegui nenhum livro do Xosé de Cea. Tive pena.

    Bj.
    Lídia

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