domingo, 14 de abril de 2019



 
 Cantata dos Simples
de Maria do Céu Nogueira


Vem isto a propósito de ter, agora em mãos, este livro da nossa escritora Maria do Céu Nogueira, com o título - Cantata dos Simples - Contos. Obra que a Calígrafo edições coloca agora no mercado, com um belíssimo prefácio da própria autora.
O título, Cantata, do italiano, sugere-nos uma antiga forma do Poema Lírico. Simples, algo que é puro, algo formado por elementos homogéneos, algo que não é complicado.
Quer isto dizer, também, que o título, agora apresentado, se enquadra e abrange perfeitamente os onze subtítulos que se estendem ao longo destas páginas. No conto, afirma Tchekhcov,  «é melhor dizer o suficiente que dizer demais.» Neste livro, Maria do Céu opta por não dizer demais, mas diz mais que o suficiente: diz aquilo que cada conto exige que se diga.
Daí, como no dizer do autor atrás citado, as principais caraterísticas do conto sempre confluíram e encontram suporte nesta trilogia: “concisão, precisão e densidade”. E, vai mais longe: corrobora que o conto precisa de causar um efeito singular no leitor: excitação e emotividade.
Por outro lado, deve colocar-se o máximo de pensamento num mínimo de palavras. O que obedece à regra dos três cês. Curto, Concreto e Conciso.
A narrativa, sabemo-lo, impõe-se como um privilegiado veículo de comunicação e, na sua função específica, faz jus em revelar-se nesta obra  onde nada é indecifrável, mas claro, nada é obscuro mas transparente, sendo percetível a adivinhação duma verosimilhança radicada no ideário social da autora, porquanto, um dos perfis da obra literária passa pelo conhecimento da realidade que ela recebeu e que ora procura transmitir ao leitor atento e, por aí, reforça o relevo duma convivência a que ele (leitor) facilmente se pode associar.   
 Por esta via, e ainda sobre os personagens, a nossa autora teve o cuidado de saber criar os perfis adequados e de adaptar, a cada um, o carácter preciso de os vestir e lhes dar nome, de lhes dar voz e os colocar em vários padrões sociais, numa convivência aldeã ou campesina, marcada por reações de desejos e vontades, por paixões e amores, por silêncios e ilusões, mas sempre com o cuidado de marcar ritmo e harmonia à caminhada ficcionada a que se propôs.

                                                                   Álvaro de Oliveira
excerto do texto de Apresentação
Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva

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