Tomo
em mãos o livro de poesia do meu amigo e poeta galego Xosé de Cea,
sob o título “VILAREDA”,
editado pela Asociación Cultural Rosalía de Castro, dividido em
três subtítulos: I. TOPOS; II. ANTHROPOS; III: EPOPTEIA” com um
curto mas incisivo prefácio (Limiar) do escritor Xosé Vasquez
Pintor.
A
página branca que sempre apaixonou e foi convite para o homem é
o palco sagrado e quase único onde os poetas depositam confissões,
emoções, momentos íntimos, e o texto poético que dele emerge é o
resultado visível dessa confissão sublime onde a voz se evade das
arcadas do silêncio que era sonho e
memória, ânsia e espera, e que, doravante, configura a realidade.
É
aqui que o poeta se impõe, e se expõe no texto e o reveste de
palavras, essa ferramenta inacabada, mas sempre renovada e
reinventada. E leio: “… como
a que houbo que arrastrar / no pulso botado contra a lagoa, /mai cos
seus brazos de nena na terra, / rastros e rastros/ de terra
arrastrada”...
E,
mais ao fundo da página: “...e tamén pai cos seus brazos de
neno / baixando a maza coma un raio / para fender pedra na canteira,
tres pesetas a hora,/ oito horas ao dia, / mellor que
coidar ovellas.”
A
poética de Xosé de Cea a elevar-se como um grito contra a agressão
à natureza, no caso vertente, localizada em Vilareda, /Palas de Rei,
/disque Galiza. Noutro andamento, diz-nos que, “Cuspo na terra /
para amasar unha lama / que me embarre os ollos/ e me devolva / a
visión: / un universo onde sobreviven/ intactas/ todas as lagoas.
Tamén a miña.
Mas
sempre o poeta na luta por ideais nobres e a sua persistência… aí
o temos a revelar ideias e emoções, imagens inteligíveis, uma
poesia do sentido e, por isso, sentida. E o livro é essa janela de
letras virada e exposta para o mundo que conduz o poema inteiro para
patamares de iluminada grandeza.
Falamos
de um poeta autêntico, e atento ao que o rodeia, e nada, portanto,
se lhe escapa nesta evocação à terra, à água, às lagoas
abolidas, aos pais e aos avós.
Podemos
dizer que em Xosé de Cea pontifica o toque de um espírito
sensível, um peregrino da natureza, que se mostra a partir duma
escrita de excelência e que assenta nos pergaminhos líricos de um
Ser plural que somos nós.
Álvaro
de Oliveira
A Poesia tem sempre tanto que nos dar.
ResponderEliminarParabéns por mais esta reflexão, Álvaro. Não consegui nenhum livro do Xosé de Cea. Tive pena.
Bj.
Lídia