Álvaro de Oliveira
vai,
menino meu, vai. entra na densa floresta. estima as árvores e as aves, recebe a
brisa que te beija o rosto, leva na algibeira todas as palavras que aprendeste
e um rio entre as mãos para acudires às manhãs feridas de cansaço.
vai,
menino meu, não enumeres os passos nem as estrelas que hás de calçar, uma a
uma, reféns das sandálias cozidas pelo tempo. vai, coloca o olhar à tua exacta
medida, para domares as feras que atacam a floresta e não te deixes dominar por
elas.
segue a rota dos meus poemas. lê-os,
um a um, em voz alta para acordares os meninos que morrem nos campos de
refugiados. segue, passo a passo, o trilho sinuoso dos meus versos, onde o sol
retoma a cor dos dias e recusa pôr-se em cada fim de tarde. vai. descobre os salões das
prostitutas de luxo nos casinos soberbos, sem que lhes toques na auréola do vestido.
esse é o espaço dos cínicos que roubam o pão aos pais dos meninos que morrem
juntos nos campos de refugiados ou o limbo onde burgueses e beatas deixam o seu
bafo.
Uma "prece" de enorme sensibilidade configurada na criança, isto é, no futuro que se vai revelando inquietude e incerteza.
ResponderEliminarParabéns por este espaço. Desejo que cada grão nesta "Eira" se faça alimento, se não para o corpo, para a alma...
Lídia