Cantata dos Simples
de Maria do Céu Nogueira
Vem
isto a propósito de ter, agora em mãos, este livro da nossa escritora Maria do
Céu Nogueira, com o título - Cantata dos
Simples - Contos. Obra que a Calígrafo edições coloca agora no mercado, com
um belíssimo prefácio da própria autora.
O
título, Cantata, do italiano,
sugere-nos uma antiga forma do Poema Lírico. Simples, algo que é puro, algo formado por elementos homogéneos,
algo que não é complicado.
Quer
isto dizer, também, que o título, agora apresentado, se enquadra e abrange
perfeitamente os onze subtítulos que se estendem ao longo destas páginas. No
conto, afirma Tchekhcov, «é melhor dizer
o suficiente que dizer demais.» Neste livro, Maria do Céu opta por não dizer
demais, mas diz mais que o suficiente: diz aquilo que cada conto exige que se
diga.
Daí,
como no dizer do autor atrás citado, as principais caraterísticas do conto
sempre confluíram e encontram suporte nesta trilogia: “concisão, precisão e
densidade”. E, vai mais longe: corrobora que o conto precisa de causar um
efeito singular no leitor: excitação e emotividade.
Por
outro lado, deve colocar-se o máximo de pensamento num mínimo de palavras. O
que obedece à regra dos três cês.
Curto, Concreto e Conciso.
A
narrativa, sabemo-lo, impõe-se como um privilegiado veículo de comunicação e,
na sua função específica, faz jus em revelar-se nesta obra onde nada é indecifrável, mas claro, nada é
obscuro mas transparente, sendo percetível a adivinhação duma verosimilhança
radicada no ideário social da autora, porquanto, um dos perfis da obra
literária passa pelo conhecimento da realidade que ela recebeu e que ora
procura transmitir ao leitor atento e, por aí, reforça o relevo duma
convivência a que ele (leitor) facilmente se pode associar.
Por
esta via, e ainda sobre os personagens, a nossa autora teve o cuidado de saber
criar os perfis adequados e de adaptar, a cada um, o carácter preciso de os
vestir e lhes dar nome, de lhes dar voz e os colocar em vários padrões sociais,
numa convivência aldeã ou campesina, marcada por reações de desejos e vontades,
por paixões e amores, por silêncios e ilusões, mas sempre com o cuidado de
marcar ritmo e harmonia à caminhada ficcionada a que se propôs.
Álvaro de Oliveira
excerto do texto de Apresentação
Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva
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