terça-feira, 14 de abril de 2020





Se me perder



Se me perder nos muros do enredo
depois das sombras do anoitecer
se o silêncio tiver a cor do medo
na seara dos teus olhos hei de aparecer

Se me perder em mágoas sem abrigo
por entre labirintos e torpedos
hei de aparecer na seara junto ao trigo
sempre que o pão te abrace pelos dedos.

Se me perder nas ruínas dos rumores
e a noite murmurar que estou em perigo
tardando em minha capa de desejos…

Não entristeças, meu amor, não chores
que hei de ir à seara para brincar contigo
e adormecer no aroma dos teus beijos.

Álvaro de Oliveira





segunda-feira, 13 de abril de 2020



Ser poema


Ser poeta, ser poema, talvez trovão
ser letra a letra o verso que me interessa
e ao mesmo tempo um simples cidadão
em quem tudo acaba ou recomeça.

Aqui e ali, penas vou encontrando
penas que me conduzem ao pensamento.
Tons de sílaba faço-os cantando
nas searas do sonho, nas mãos do vento.

E que importa que seja ou que não seja
pedaços de poema, rima, marfim,
cristais luzentes, prata e ouro fino?

Pretendo que o poema me proteja
que o ser doutra maneira ou ser assim…
mesmo feito palavras por destino.

Álvaro de Oliveira

sábado, 11 de abril de 2020



A poesia



A poesia habita nas estrelas
é canto, trigo, sol, seara, água
é o mundo pintalgado em duas telas
numa das quais está a tua mágoa.

É dor, é pedra, é sal, é orvalho, é vento.
A poesia habita nos teus braços
são rugas já lavadas pelo tempo
no caminho contado em teus passos.

A poesia habita a tua voz
é talvez o silêncio, o cedo, o tarde
uma oração secreta o pensamento.

A poesia somos todos nós
essa grande fogueira que ainda arde
uma trova que passa ou um lamento.

Álvaro de Oliveira